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Elisabete França integra a dupla de palestrantes do 4º Encontro CAU/DF

DestaElisabete Françaque por mais de 30 anos na Arquitetura e Urbanismo nacional, autora e organizadora de mais de vinte obras de destaque na área, a curitibana Elisabete França é mestre pela FAU-USP e doutora pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Por oito anos coordenou o planejamento dos programas habitacionais de São Paulo, como Superintendente na Secretaria Municipal de Habitação (Sehab), tratando de questões que envolvem locação social, regularização fundiária, dentre outras nuances da urbanização contemporânea.

Os estudos realizados pela palestrante canalizam todas as expressões, não apenas pictóricas, mas também sociais e politicas que se desenvolvem em paralelo ao crescimento espontâneo das cidades. Tais estudos foram também o destaque para a exposição “Favelas Upgrading”, apresentada no Pavilhão Brasileiro durante a 8ª Bienal de Arquitetura de Veneza, sob a curadoria dela mesma. Os projetos e leituras feitas por Elisabete França propõem a aglutinação das áreas periféricas com os espaços centrais, sem que se percam as identidades locais, e sim, que exista troca, crescimento e enriquecimento cultural, social, espacial e político.

 

Veja a entrevista realizada com Elisabete França:

 

– Qual a influência prática da cidade no seu trabalho?

Por força da minha formação, fortemente ligada ao urbanismo (UFPR – 1980) sempre entendi a cidade como foco de intervenção da arquitetura e do urbanismo. A cidade permitiu que todos os trabalhos que desenvolvi como agente público, sempre estivessem vinculados a projetos urbanos. E, como professora, desde os anos 1990, optei por disciplinas que tratassem das questões da cidade. Como exemplo, em 1991, criamos na Braz Cubas, a disciplina de desenho urbana, pioneira no ensino de graduação na arquitetura.

– Ao longo da sua carreia, as barreiras politicas e burocráticas te impediram de realizar algum projeto que considera transformador?

Até o momento não. Da minha experiência, de mais de 30 anos no setor público, acredito que não existem barreiras para projetos transformadores da cidade. O que não existe são gestores públicos que acreditem no poder de bons projetos para a transformação. O que vemos hoje é um enorme descrédito em relação à função do gestor público. Mas as possibilidades de transformação estão aí aguardando bons gestores públicos.

– Qual é a maior dificuldade em integrar as regiões periféricas dos centros no processo de urbanização?

Bem, primeiro eu não acredito nessa divisão centro periferia. O que temos são partes da cidade mais ou menos estruturadas, ou seja, com maior ou menor acesso à infraestrutura. Acreditar nessa divisão, seria acreditar que quem mora em um bairro como o Cantinho do Céu (distante cerca de duas horas da Praça da Sé), não estabeleceu vínculos com seu bairro, tanto urbanos como sociais. Essa divisão só existe na cabeça de acadêmicos que passam suas vidas escrevendo sobre cidade partida, gentrificação e outros temas polêmicos, que são atrativos para alunos e meios de comunicação.  A realidade é outra (basta ler a recente pesquisa divulgada pelo CAU BR). Todos que vem para as cidades constroem suas vidas mesmo que de forma não regular. Nesses locais, programas de infraestrutura, saneamento básico e regularização fundiária são suficientes para eliminar a precariedade urbana. Aliados a esses programas vem os de implantação de equipamentos educacionais, de saúde e culturais.

– A posição da mulher no urbanismo ao redor do mundo ganhou força nos últimos tempos?

Depende. Se analisarmos as premiações mundiais em geral, não. Se analisarmos o espaço para a divulgação do trabalho das arquitetas, não. Nas bienais de arquitetura de todo o mundo, não. Nas nossas entidades, não. Mas nas escolas, a porcentagem de mulheres é significativamente maior que a de homens. Talvez, daqui há algumas décadas esse quadro mude, assim como a sociedade masculina em que vivemos. Há esperanças.